sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Grito das Ruas


Nas últimas semanas assistimos, entre perplexos e maravilhados, a notícias frequentes sobre as passeatas de protesto que ocorreram em todo o país. De norte a sul, em muitos recantos deste país, em grandes e médias cidades, as manifestações se repetiram, na imensa maioria de forma pacífica, embora diversos vândalos e criminosos tenham se aproveitado para a prática de depredações e furtos. A polícia, como sempre, inicialmente comportou-se de forma mais truculenta, mas depois, orientada pelos governantes passou a ter um papel mais moderado.

O motivo inicial, poder-se-ia dizer, o estopim da revolta foi o aumento em São Paulo do preço das passagens de ônibus e metrô em “apenas” vinte centavos. Mas logo ficou evidente que diversos outros temas e queixas estavam motivando os manifestantes. A impressão que dava é de que havia um grito represado na garganta de muitas pessoas, que foram às ruas para expressar seu protesto, seu desagrado e sua revolta contra muitas coisas que têm acontecido neste nosso país, e que vão desde o mau uso e desvio do dinheiro público até a situação precária em que se encontram a saúde e educação públicas, passando também pela impunidade das autoridades e políticos, mesmo aqueles reconhecidamente criminosos e até condenados pela justiça. Parece que, de repente, o povo acordou para o “faz de conta” que tem sido muitas das “realizações” anunciadas através da mídia; acordou também para as tentativas de manutenção e até ampliação da impunidade de políticos e autoridades que praticam os “malfeitos”.

Na sua grande maioria, os participantes eram jovens, que se articularam sem apoio de nenhum partido político, através das redes sociais da internet. Vários partidos, aliás, tentaram se “identificar” com o movimento, mas foram rechaçados pelos manifestantes. Além dos jovens, muitas pessoas na idade madura foram se aliando ao movimento. Pessoalmente, conheço um senhor de sessenta e dois anos que, tendo tido seu carro parado em uma dessas passeatas, ele e o filho, estacionaram o carro e aderiram à mesma.

Outro fato interessante na ocorrência desse fenômeno, foi que o mesmo se deu numa fase aparentemente festiva, em que estava se realizando a tão esperada Copa das Confederações, na qual o Brasil acabou se sagrando campeão. A juventude, mostrando um grau de maturidade e de discernimento político inesperado neste Brasil, saiu às ruas, por diversas vezes, e uma das suas queixas era exatamente o desperdício e os desvios ocorridos na construção dos belos e suntuosos estádios, feitos para a competição.

Muitos consideravam a nossa juventude alienada, preocupada apenas com os assuntos imediatos e pensando apenas em curtir a vida. Mas os fatos mostraram o engano dessa suposição. Os jovens revelaram, mais uma vez, que são uma importante força propulsora das mudanças, e como tal devem ser elogiados e incentivados. Nós, os mais velhos, devemos segui-los e orientá-los, mas nunca impedi-los de se manifestarem e de opinarem sobre o futuro deste país, além de expressarem sua legítima revolta.

O que vai acontecer a partir de agora, é ainda uma interrogação. Muitas autoridades e políticos apressaram-se em, ao menos, parecer estar ouvindo a voz do povo. Diversos estados baixaram o preço das passagens, o governo federal anunciou cinco novos “pactos” para atender os anseios, a câmara rejeitou a emenda “PEC-36”, justamente denominada de “emenda da impunidade”, a qual pretendia proibir ao Ministério Público a investigação de crimes, e o próprio Supremo Tribunal mandou prender um deputado federal, condenado havia dois anos e ainda solto. No entanto, ainda fica a sensação de que o objetivo real é amenizar a situação e não propriamente resolver os enormes problemas que existem. As autoridades falam agora em Reforma Política e em Plebiscito, talvez esquecendo de que a revolta focou muito mais a falta de ética na política e não as reais deficiências do “sistema político”. Ainda é cedo para avaliar o quanto de mudanças e transformações ocorrerão.

Mas, que temos nós da Escola D. Edilberto a ver com tudo isso? Na verdade, temos muito a ver: é preciso observar que a juventude que promoveu essas manifestações era, com certeza, uma juventude mais esclarecida. Foram jovens que, acompanhando o noticiário da imprensa, conseguiram se articular com uso da tecnologia, trocando opiniões e obtendo adesões para as propostas de mudanças. É exatamente o que nós, como educadores, desejamos: transmitir à nova geração os valores éticos, o aprendizado da 
linguagem e o de novas ferramentas tecnológicas, o que lhe permitirá, futuramente, ser uma juventude consciente e atuante, de forma a conseguir gradualmente transformar este país que, como já foi dito, é maravilhoso mas ainda perverso.


Renato Falcão

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