quinta-feira, 19 de setembro de 2013

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Educação à Francesa

Viajar sempre nos dá a oportunidade de refletirmos sobre nós mesmos, nosso país e nossa cultura. Há um mês voltei de uma viagem de três meses pela Europa. A maior parte desse tempo fiquei em Paris, onde me dediquei a estudar francês.
 
Muitas foram as comparações e reflexões sobre os mais diferentes temas que me aconteceram nesse período. Mas, para além do encantamento com o funcionamento dos serviços públicos de transporte, foi possível perceber a força da política de bem-estar social tão presente nas sociais-democracias, como a França, que apesar de todas as ameaças sofridas nos últimos anos, segue vacilante tentando se desvencilhar das constantes propostas reformistas.
 
Esse estado de bem-estar social é o que permite que crianças tenham acesso a creches gratuitas e de qualidade, próximas de suas casas, além da oportunidade de estudar até o ensino médio contando com um bom sistema público-educacional. A universidade francesa também é pública e quase gratuita, já que o valor pago anualmente é irrisório.
 
Heranças da revolução francesa, os ideais de igualdade e fraternidade influenciaram no pioneirismo da terra de Balzac na educação. A França foi um dos primeiros países a ter um sistema público educacional. Primeiro com a lei de Guizot, em 1833, que foi base da organização escolar francesa e depois em 28 de março de 1882, com a lei escolar de Jules Ferry, que estabelece de fato a obrigatoriedade escolar e a laicidade no ensino público primário.
 
Todas essas conquistas vigiadas de perto pelo povo francês, que vai às ruas quando se aventa qualquer possibilidade de mudança no sistema, não asseguram, no entanto, que a educação francesa não tenha os seus problemas. O filme francês do ano de 2008, “Entre os muros da Escola” retrata o que é a escola para os imigrantes e mais que isso, retrata o conflito latente presente na sociedade francesa de hoje. A lei de 2011 que proíbe a utilização de burcas nas escolas e outros espaços públicos da França é uma prova disso. A nação que criou e pregou os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, atualmente tem dificuldades em lidar com os seus imigrantes e as escolas francesas parecem sofrer o reflexo disso.
 
Mesmo com esses problemas, a educação francesa está bem acima da brasileira no ranking divulgado pela UNESCO em 2011. Nele, a França aparece em quinto lugar e o Brasil em 88º. A percepção de alguns imigrantes brasileiros que conheci por lá e que têm filhos que frequentam escolas e creches ratificam isso. A nós, resta-nos torcer para que um dia a educação pública brasileira chegue próximo da educação na França, mas sem o peso dos seus preconceitos.


Ingrid Campos